quarta-feira, 25 de maio de 2011

me morde — prólogo

três anos atrás

     Ele não sabia se era assim que deveria ser feito, apenas pressionara seus lábios contra os lábios da garota e esperou que a mágica acontecesse. Mas não aconteceu, ou pelo menos era uma merda aquela sensação. Tinha certeza de que sentiria mais prazer se levasse um beliscão no braço, mas ele era masoquista, então era óbvio que iria sentir tesão com dor. Aquele fato era um de seus preferidos em relação à sua vida: ele gostava de sofrer. Em diversas vezes havia chegado em casa com hematomas pelo corpo inteiro, que levara pedindo "me morde?" para suas amigas e alguns amigos. 
     — E então? — A menina sorriu. Como ele poderia descrever aquela sensação de estômago quase revirando e desprezo por ter compartilhado no mínimo quinze bilhões de bactérias?
     — Foi... perfeito. — ela ficou vermelha e o beijou novamente. O menino tentou retribuir, mas simplesmente não teve vontade de fazer aquilo, então ficou ali, parado, deixando que ela fizesse o serviço sozinha e se auto-satisfizesse. Seria mais prático se masturbar. Disso ele gostaria, com certeza.

     — Não acredito que você não sentiu nada. — Anna se aproximou dele, tentando captar o mínimo de emoção possível.
     — Nadinha. — Ele ficou brincando com os dedos, não gostava de quando ela se aproximava assim. Tudo bem que era sua melhor amiga, mas aquilo o deixava nervoso.
     — Você sabe que vou mentir pra ela e dizer que você adorou, certo? — Ele a encarou.
     — Porquê?
     — Porquê ela é minha prima, e é louca com você. Tenho que ter o mínimo de consideração pelo meu sangue. — Theodore revirou os olhos e continuou a brincar com os dedos, se concentrando naquilo.
     — Só não me faça beijá-la de novo. Perdi o BV, que era tudo o que você mais queria que eu fizesse na vida, então agora, pelo amor de deus, me deixa em paz por uns dois anos até pedir outra coisa. — Ela ficou em silêncio, o encarando ainda de perto. De repente se afastou e se sentou na frente dele, abrindo Harry Potter na parte em que havia parado.
     — Ok. — os olhos dela se fixaram no livro e ela se concentrou. Thiago mantinha o olhar tímido para ela.
     — Você ficou com raiva? — ela fez que não. — Não conta pra ninguém tá bom?
   — O quê? Que você tem 14 anos e beijou na boca pela primeira vez ontem à noite? Aquilo foi simplesmente um ato de humildade que fiz, pois ambos sabemos que daqui a três anos, você vai estar magrelo, gigante, branquelo e possivelmente será o menino mais feio da sala. — O rosto dele começou a ficar vermelho. 
     — Não é pra exagerar... — ela levantou os olhos e o encarou.
     — Me diga quem mais, senão a louca da minha prima, iria te beijar? Arruma um espelho Thi, e dos grandes.

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